Hoje ocorre o Equinócio de Outono, às 09h20m.
(hora legal de Portugal Continental, ou seja, UTC+1).
Este instante marca o início do Outono no Hemisfério Norte.
Esta estação prolonga-se por 89,81 dias...
Feliz Outono!
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Eis chega Uriel, que então no fim da tarde
Sobre um raio do Sol desceu ligeiro, —
Qual voa a estrela que, fendendo a noite
Quando no outono os vaporosos ares
Fácil se inflamam, dá sinal não dúbio
De que rumo da agulha os nautas devem
Dos tempestuosos ventos precatar-se.
O anjo, todo apressado, assim se expressa:
“Gabriel, que exerces o distinto encargo
De estes sítios guardares tão ditosos,
Para que ente algum mau não se aventure
A entrar-lhes dentro ou a chegar-lhes perto;
Sabe que hoje ao mei’-dia veio ansioso
À esfera minha um anjo, pretendendo
Reconhecer melhor (segundo disse)
De Deus as obras e mormente o homem
Que certo é dele a mais recente imagem.
Ensinei-lhe o caminho: eis que ligeiro
Partiu. Mas pus-me a pesquisar seu porte;
Na montanha que fica ao norte do Éden
Pousou primeiro; ali diviso pronto
Por terríveis paixões escurecidos
Os olhos seus em que ressumbram planos
Ao Céu contrários: continuei a vê-lo
Té que se me ocultou sob estas sombras.
Temo que algum dos réprobos ousasse
Sair do Abismo a nos fazer mais guerras.
A vigilância tua deve achá-lo.”
Logo o alado guerreiro lhe responde:
“Não é para admirar que a tua vista
Tão perfeita como é, Uriel, alcance
Do Sol brilhante, junto ao qual te assentas,
A tão remoto sítio: desta porta
Não deixa a guarda penetrar por ela
Senão do Céu os conhecidos núncios:
Ninguém aqui chegou desde o mei’-dia.
Se espírito suspeito entrou astuto,
Com estudado ardil pulou decerto
Estas térreas muralhas superando:
E tu sabes mui bem quanto é difícil
Embaraçar espirituais substâncias
Com materiais barreiras inda que altas.
Porém se no recinto destes muros
Estiver quem tu dizes, traje embora
Qualquer das formas que melhor o encubra,
Mal que rompa a manhã darei com ele.”
John Milton, “Paraíso Perdido”, 1667