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I hear and I forget. I see and I remember. I do and I understand.
Confucius
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O livro é um mudo que fala,
um surdo que responde,
um cego que guia, um morto que vive.
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"Por vezes não se morre por ter-se a alma
pequena, mas morre-se sim quando a alma
é demasiado grande para tanta desigualdade
no enquadramento do mundo."
Padre António Vieira (1608-1697)
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"Eu venho desde ontem,
do escuro passado e esquecido
com as mãos amarradas pelo tempo,
e a boca selada das épocas remotas.
Venho carregada das dores antigas,
Guardadas por séculos,
arrastando correntes longas e indestrutíveis…
Eu venho da obscuridade,
do poço do esquecimento,
com o silêncio nas costas,
do medo ancestral que tem corroído a minha alma
desde o princípio dos tempos…
Venho de ser escrava por milénios,
escrava de maneiras diferentes:
submetida ao desejo de meu raptor na Pérsia,
escravizada na Grécia pelo poder romano,
convertida em vestal nas terras do Egipto,
oferecida aos deuses em ritos milenares,
vendida no deserto
ou avaliada como uma mercadoria…
Eu venho de ser apedrejada por adúltera nas ruas de Jerusalém,
por uma multidão dos hipócritas,
pecadores de todas as espécies,
que clamavam aos céus pela minha punição…
Tenho sido mutilada em muitos povos
para privar o meu corpo dos prazeres
e convertida em animal de carga
trabalhadora e parideira da espécie…
Têm-me violado sem limites,
em todos os cantos do planeta,
sem levarem em consideração a minha idade madura
ou juventude , minha cor ou estatura…
Tive que servir ontem aos senhores,
submeter-me aos seus desejos,
entregar-me,doar-me, destruir-me
para esquecer-se de ser uma entre milhares.
Fui cortesã de um senhor em Castilha,
Esposa de um marquês
E concubina de um comerciante grego,
Prostituta em Bombaim e nas Filipinas
E esse tratamento foi sempre igual….
De um e de outros sempre fui escrava,
De um e de outros sempre fui dependente,
menor de idade em todos os assuntos,
Invisível na História mais antiga
e esquecida na História mais recente
Não tive a luz do alfabeto…
Durante muitos séculos,
reguei com as minhas lágrimas a terra
que devia cultivar desde a infância….
Tenho percorrido o mundo em milhares das vidas
que me têm sido entregues uma a uma
e tenho conhecido todos os homens do planeta:
Os grandes, os pequenos, os bravos e cobardes,
Os vis os honestos, os bons e os terríveis
Mas quase todos levam a marca do tempo…
Uns manejam vidas como patrões e senhores,
Asfixiam, aprisionam e aniquilam
Outros subjugam almas,
comercializam com ideias
assustam ou seduzem
manipulam ou oprimem…
Conheço-os a todos.
Estive perto de uns e de outros
Servindo cada dia,
Recolhendo migalhas,
Humilhando-me a cada passo,
cumprindo o meu karma…
Tenho percorrido todos os caminhos
arranhando paredes, ensaiando silêncios
tratando de cumprir as ordens de ser
como eles querem,
mas não tenho conseguido…
Jamais foi permitido que eu escolhesse
O rumo da minha vida.
Tenho caminhado sempre em disjunção
entre o ser santa ou prostitua…
Tenho conhecido o ódio e os inquisidores
que em nome da santa madre igreja
condenam o meu corpo ao seu serviço
às infames chamas da fogueira.
Têm-me chamado de múltiplas maneiras:
Bruxa, louca, adivinha, pervertida, aliada de Satã,
escrava da carne, sedutora ninfomaníaca
culpada de todos os males da Terra…
Mas segui vivendo,
arando, colhendo, costurando, construindo,
cozinhando, tecendo, curando, protegendo,
parindo, criando, amamentando, cuidando
e, sobretudo, amando…
Tenho povoado a Terra de senhores e escravos,
de ricos e mendigos, de génios e idiotas,
mas todos tiveram o calor do meu ventre,
meu sangue e seu alimento
e levaram com eles um pouco da minha vida…
Consegui sobreviver à conquista brutal e sem piedade
de Castilha nas terras da América.
Mas perdi meus deuses e a minha terra
e meu ventre pariu gente mestiça
depois que o meu patrão me tomou à força…
E neste continente mestiço prossegui a minha existência
carregada de dores quotidiana negra e escrava .
No meio da fazenda me vi obrigada
A receber o patrão quantas vezes ele quisesse
Sem poder expressar nenhuma queixa…
Depois fui costureira,
camponesa , servente , agricultora
Mãe de muitos filhos miseráveis,
vendedora ambulante, curandeira,
babá,cuidadora de velhos,
artesã de mãos prodigiosas, tecelã bordadeira,
operária, professora, secretária, enfermeira….
Sempre servindo a todos
convertida em abelha ou semeadeira,
cazendo as tarefas mais ingratas,
moldada como uma jarra por mãos alheias…
Vieram milhões de mulheres juntas escutar a minhas queixas.
Falou-se de dores milenares,
dos enormes grilhões que os séculos
nos fizeram carregar nas costas
e formamos com todos os nossos lamentos
um caudaloso rio
que começou a percorrer o Universo,
afogando a injustiça e os esquecimento…
O mundo ficou paralisado,
os homens e mulheres não caminharam.
Pararam as máquinas, os tornos,
os grandes edifícios e as fábricas,
ministérios e hotéis, oficinas, hospitais,
e lojas e lares e cozinhas…
Nós mulheres finalmente descobrimos:
Somos tão poderosas quanto eles
E somos muito mais numerosas sobre a Terra!
Mais que o silêncio, mais que o sofrimento,
Mais que a infância e mais que a miséria!
Que este cântico ressoe
nas longínquas terras da Indochina
nas cálidas areias de África,
no Alasca e na América Latina
Proclamando a igualdade entre os géneros
Para construir um mundo solidário
-diferente, horizontal, sem poderes -
a conjugar a ternura, a paz e a vida
a beber da ciência sem distinção.
A derrotar o ódio e os preconceitos,
O poder de uns poucos, as mesquinhas fronteiras ,
a amassar com as mãos de ambos os sexos,
o pão da existência…"
Jenny del Pilar Londoño López, Reencarnações
Youtube e Ridley Scott apresentam 'Life in a Day'.
Um documentário sobre um único dia na Terra: 24 de Julho de 2010. Uma colectânea de vídeos comuns, filmados por pessoas comuns e que relata o quotidiano vivido nos quatro cantos do Mundo.
Sem dúvida, vale a pena ver.
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Life In A Day
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Keep away
from people
who try to belittle
your ambitions.
Small people
always do that,
but the really great
make you feel
that you, too,
can become great.
Mark Twain
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Sonho a cores, mas vivo a preto e branco.
Vivo a preto e branco, mas sonho a cores.
Cleo
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Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.
Jean Cocteau
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Na Vida, como no Xadrêz, há momentos em que não existe nenhuma jogada favorável para ninguém. Desejamos 'passar a vez'. Mas na Vida, como no Xadrêz, isso não é permitido. A jogada tem que ser concretizada. É inevitável fazer o movimento que, qualquer que seja, além de não nos favorecer irá prejudicar-nos. É assim o Xadrez. E a Vida. É o Zugzwang.
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"Para aqueles que crêem, nenhuma explicação é necessária;
e para aqueles que não crêem, nenhuma explicação é possível."
Santo Inácio de Loyola
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Certa vez houve uma inundação numa imensa floresta. O choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou a morte. Os grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando até os filhos para trás. Devastavam tudo o que estava à frente. Os animais menores seguiam seus rastros. De repente uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar.
”As hienas viram a atitude da andorinha e ficaram admiradíssimas. Disseram: ’Você é louca! O que poderá fazer com um corpo tão frágil?’. Os abutres bradaram: ’Utópica! Veja se enxerga a sua pequenez!’. Por onde a frágil andorinha passava, era ridicularizada. Mas, atenta, procurava alguém que pudesse resgatar. Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando. Apesar de nunca ter aprendido a mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela asa esquerda. E bateu em retirada, carregando o filhote no bico.
”Ao retornar, encontrou outras hienas, que não tardaram a declarar: ’Maluca! Está querendo ser heroína!’. Mas não parou; muito fatigada, só descansou após deixar o pequeno beija-flor em local seguro. Horas depois, encontrou as hienas embaixo de uma sombra. Fitando-as nos olhos, deu a sua resposta: ’Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros voarem’.”
Sejam dignos das suas asas. É na insignificância que se conquistam os grandes significados, é na pequenez que se realizam os grandes atos.
Augusto cury, O vendedor de Sonhos
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"Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
– nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."
Clarice Lispector
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"Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e pori sso a aldeia é maior que a cidade...
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo. "Sou do tamanho do que vejo!"Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão. E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."
Fernando Pessoa, in O Livro do Desassossego
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For beautiful eyes, look for the good in others;
for beautiful lips, speak only words of kindness;
and for poise, walk with the knowledge that you are never
alone.
Audrey Hepburn
(1929 - 1993)
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Demasiada Loucura é o mais divino Juízo
Para um Olhar criterioso
Demasiado Juízo - a mais severa Loucura
É a Maioria que
Nisto, como em Tudo, prevalece
Consente - e és são
Objecta - és perigoso de imediato
E acorrentado
Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"