Segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2011

 

 

Um livro excelente que li na adolescência, e que tenho sempre por perto. De vez em quando, abro-o aleatoriamente e leio um bom bocado. E fico deliciada com as notas que escrevi naquela época, nos bordos das páginas...

 

 

* * * 

  

"Embora tivesse de me deitar cedo, às vezes, no inverno, via as estrelas. Costumava olhar para elas, cintilantes e distantes, e ficava a pensar o que é que elas eram. Perguntava a miúdos mais velhos e a adultos, que normalmente só me respondiam: 'São luzes no céu, pazinho.' Que eram luzes no céu também eu via. Mas o que eram elas? Simples lampadazinhas suspensas? Para quê? Sentia uma certa pena delas: uma banalidade cujo enigma eu de certo modo escondia dos meus indiferentes companheiros. Tinha de haver uma resposta mais profunda.

Mal atingi a idade necessáia, os meus pais deram-me o meu primeiro cartão de biblioteca. Parece-me que a biblioteca era na Rua 85, para mim terreno estranho. Imediatamente pedi à bibliotecária alguma coisa que falasse de estrelas. E ela voltou com um livro ilustrado com retratos de homens e mulheres com nomes como Clark Gable e Jean Harlow. Eu reclamei e, por alguma razão que na altura não percebi, ele sorriu e foi buscar outro livro - um dos que eu queria. Abri-o de respiração suspensa e li até encontrar. O livro dizia uma coisa espantosa, um enorme pensamento. Dizia que as estrelas eram sóis, só que muito distantes. O Sol era uma estrela, mas próxima. (...) Não tinha a mínima hipótese de calcular a distância até às estrelas. Mas sabia que, se as estrelas eram sóis, tinham de estar muito, muito longe - mais longe que a Rua 85, mais longe do que Manhattan, provavelmente mais longe do que a Nova Jérsia. O cosmos era muito maior do que eu tinha imaginado. (...) Então, nesse caso, pensei eu, é legítimo pensar que as outras estrelas também têm planetas, que ainda não detectámos, e que alguns dessoutros planetas devem ter vida (porque não?), um tipo de vida provavelmente diferente daquela que nós conhecemos, a vida em Brooklyn. E assim decidi que havia de ser astrónomo, estudar as estrelas e planetas e, se pudesse, ir visitá-los. (...)

O que são as estrelas? É uma pergunta tão natural como o sorriso duma criança. E nós sempre a fizemos. O que distingue a nossa época é que, finalmente, sabemos algumas das respostas. (...)

O que é que os nossos antepassados julgavam que eram as estrelas?"

  

  

Carl Sagan (1934 - 1996)

in Cosmos, Edição Gradiva, pp.194-196

  

 

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Unreleased music suite - Cosmos Special Edition 1986 by Vangelis

 

 

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publicado por Cleópatra M.P. às 00:37
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Estou a comentar de novo no blog...já nao o fazia algum tempo...
É bom ler frases como estas, das estrelas...
sem duvida que o sorriso de uma criança é tão grande quanto a distancia do nosso pensamento ha distancia das estrelas.


Luis
Luis a 20 de Fevereiro de 2011 às 08:16

Olá Luis,
Bem vindo de novo. :-)

Já li muitos livros de Carl Sagan, mas o 'Cosmos' ocupa um lugar especial! É um livro extraordinário. Recomendo que o leias. Tenho a certeza que vais gostar!

Um abraço e volta sempre!
Cleópatra M.P. a 20 de Fevereiro de 2011 às 10:16


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