Terça-feira, 20 de Abril de 2010

 

 

 

 

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"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

 

 

Guerra Junqueiro, in "Pátria", 1896

 

 

 

publicado por Cleópatra M.P. às 08:09
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Sei que as palavras não são tuas, mas imagino-te num palco a fazeres este discurso toda inflamada, convicta das tuas certezas ...

E eu, claro... a aplaudir!

Viva !!!

A. Light
Anónimo a 20 de Abril de 2010 às 10:40


Minha cara amiga!

Pois... eu sou uma mistura explosiva...
Às vezes, nem imaginas o quanto me apetece fazer esse discurso!!!

Pelo menos, poderia servir para que algumas pessoas deixassem o estado de dormência (in)consciente em que se encontram... será?

Obrigada pelo apoio! Sei que na plateia, estarias pelo menos tu. Pena que já estejas 'acordada'!!!

Beijos contestatários :-)


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