Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010

 

 

 

* * *

 

 

 

 

* * *

 

 Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

 

 

 

David Mourão-Ferreira, Presídio in “Obra Poética”

 


 

publicado por Cleópatra M.P. às 15:14
link do post | comentar | favorito!

Setembro 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

14
17
18

21
22
25

26
27
29