Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

 

 

 

“Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.

Só isso: o céu azul, a sombra lisa,

o livro aberto.

E algumas palavras. Poucas,

ditas como por acaso.

Eram contudo palavras de amor.

Não propriamente ditas,

antes adivinhadas. Ou só pressentidas.

Como folhas verdes de passagem.

Um verde, digamos, brilhante,

de laranjeiras.

Foi como se de repente chovesse:

as folhas, quero dizer, as palavras

brilharam. Não que fossem ditas,

mas eram de amor, embora só adivinhadas.

Por isso brilhavam. Como folhas

molhadas.”

 

 

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede

 


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publicado por Cleópatra M.P. às 21:46
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“É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas as mãos, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes
do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações”

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede

(Imagem: John William Waterhouse, Rose)

 


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publicado por Cleópatra M.P. às 21:18
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